Mais Arquivos. novembro 2012

Perguntas e respostas sobre mídia social, com Eugene Kaspersky

A segurança das redes sociais e das pessoas que as usam diariamente tornou-se uma preocupação séria para corporações e consumidores. Milhões de pessoas usam redes como Facebook e Twitter para se comunicarem e se conectarem com amigos e colegas, e os ataques contra as redes em si e seus usuários minam a confiança que as pessoas depositam nesses mecanismos de comunicação. Eugene Kaspersky, presidente da Kaspersky Lab, recentemente respondeu a perguntas sobre as preocupações de segurança em torno da mídia social e o que as pessoas podem fazer para se protegerem nessas redes.

Eugene Kaspersky Social Media Interview (profile)

P: As redes sociais estão inundadas de spam. Anúncios e postagens como “adicione este link à sua parede para ficar rico” reduzem a qualidade e a importância das informações sobre blogs e outros sites. Além disso, as redes sociais se tornaram um instrumento importante de negócios, o que também reduz drasticamente o volume de informações úteis ali contidas. Isso significa que as redes sociais não são hoje, em muitos casos, nada além de uma ilusão?

Eugene Kaspersky: Este é um problema universal do ciberespaço, não apenas das redes sociais: cerca de 72% de todo o tráfego de e-mail é formado por SPAM e mais de um quarto dos aplicativos móveis é usado apenas uma vez. Mas eu não diria que as redes sociais são uma ilusão: elas são um local perfeito para a comunicação, que, na verdade, substitui os canais tradicionais – como e-mails, telefones e reuniões presenciais. Em alguns casos, até mesmo a própria vida real.

P: “Veneno que cura ou mata – é só uma questão de dosagem.” Você poderia citar cinco modos como as redes sociais podem ser usadas mais efetivamente para o bem e para o mal?

Eugene Kaspersky: Estas são as cinco principais vantagens das redes sociais:

1) Elas são uma ferramenta de comunicação perfeita – provavelmente, o meio mais fácil para conectar duas pessoas em diferentes continentes. Com o boom dos aplicativos móveis, ficou ainda mais fácil.

2) Pode-se encontrar clubes para qualquer tipo de hobby ou interesse – nada é mais fácil do que fazer novos amigos para um salto de paraquedas ou uma aventura de snowboarding.

3) Elas dão a oportunidade para você criar sua própria mídia – absolutamente gratuita e sem censura. Qualquer um pode ter blog, podcast ou até mesmo seu próprio canal de TV.

4) A mídia social está derrubando fronteiras – ela é uma ponte que conecta nações (com algumas restrições). Por isso este canal permanece livre – a humanidade tem, enfim, a chance de se unificar.

5) On-line 24 horas por dia, 7 dias por semana – não se usa o telefone celular ou o e-mail com essa frequência 🙂

E agora, vejamos como as redes sociais podem ser algo perigoso e prejudicial:

1) As redes sociais são a última palavra em ferramenta para colher informações pessoais – e, quando utilizadas por criminosos cibernéticos, podem e são usadas contra as pessoas. Elas também são um local onde seu filho pode entrar em contato com usuários inconvenientes ou até mesmo perigosos. O fato de a categoria ‘redes sociais’ estar em segundo lugar global em termos de alertas do componente Controle para pais (nos produtos Kaspersky Lab) demonstra que os filhos adoram entrar nos sites de redes sociais.

2) As redes sociais são plataformas de engenharia exclusiva. Quando usamos o Facebook ou o Twitter, somos como ratos de laboratório. Cada passo pode ser rastreado e analisado. Agências de marketing, serviços de inteligência – particulares e governamentais – usam essa ferramenta como campo para testes de comportamento.

3) Desinformação. Quando a mídia social é usada por profissionais da mídia, ela é o meio mais fácil para “espalhar as notícias”. Mesmo que se trate de um boato – é muito difícil apurar a verdade quando o fogo já foi ateado.

4) Um problema grave é que a mídia social pode ser usada por extremistas, terroristas e criminosos cibernéticos para recrutar membros para seus grupos.

5) A mídia social é como uma droga – é mais fácil parecer bem-sucedido on-line do que ter esse sucesso na vida real. E, se um dia, a mídia social se tornar essencial e entrar em colapso por algum motivo, milhões de pessoas se sentirão desamparadas e profundamente infelizes.

P: Ótima lista. Todas essas informações supostamente são descritas nas cláusulas de isenção de responsabilidade. Mas ninguém as lê – as pessoas se limitam a pressionar “Concordo” e prosseguir. Qual é a vantagem dessas declarações de isenção se ninguém as usa?

Eugene Kaspersky: Resumidamente, toda isenção de responsabilidade é um colete à prova de bala para a empresa que presta o serviço ou fornece o software. Isso é segurança, semelhante a avisos “bobos” expostos em produtos para clientes que eventualmente decidam derramar café fervente nos joelhos para ver o que acontece, ou ferver seu relógio de pulso. O mesmo acontece com a Internet. Se alguém decidir compartilhar todos os seus dados pessoais, inclusive imagens particulares e rastreamentos de GPS, nenhuma empresa ou rede social o impedirá de fazê-lo. As marcas usam as cláusulas de isenção de responsabilidade para evitar todo tipo de possíveis problemas jurídicos. Não há outra opção no atual sistema jurídico que, sejamos sinceros, não seja relevante para o ecossistema da Internet e da mídia social.

P: Quando falamos de segurança na mídia social via software, que proteção podemos esperar ao comprar um antivírus premium? Quais ameaças poderiam ser sinalizadas e quais provavelmente zombariam da capacidade de proteção do software?

Eugene Kaspersky: O ataque proveniente das redes sociais normalmente é multinível. No primeiro estágio, os invasores tentam acessar sua conta – seja usando um site de phishing ou programas que roubam senhas. No segundo estágio, usam contas roubadas com propósitos próprios. Esses propósitos podem ser a distribuição de spam, roubo de dinheiro de contas bancárias ou simplesmente acessar seus dados pessoais. Outro perigo é que os criminosos podem enviar a todos os usuários da lista de amigos de uma vítima links para sites mal-intencionados. As pessoas estão habituadas a clicar no link enviado por pessoas em quem confiam, e um link mal-intencionado pode fazer com que instalem software desse tipo. Por último, os computadores infectados podem ser usados em botnets com diferentes finalidades criminosas. Um dos nossos produtos, o Kaspersky Internet Security 2013, foi criado especificamente para proteger sua identidade contra criminosos cibernéticos e os mais recentes ataques de malware.

Obviamente, não há software capaz de garantir 100% de proteção contra ataques sofisticados e personalizados que incluam elementos de engenharia social. Quando você é atacado por outro ser humano que conseguiu a chave da sua alma em horas de conversa despreocupada, nada nem ninguém pode defendê-lo, só você mesmo. Mas meu conselho é muito simples: nunca confie em alguém que você só conhece por bate-papos na mídia social. Sinceramente, nunca faça negócios nem revele informações pessoais a alguém que você não conheça pessoalmente. Em segundo lugar, use o cérebro com inteligência. Queijo na ratoeira de graça é algo que não existe.

P: A Kaspersky vai lançar o Kaspersky Antivirus gratuito?

Eugene Kaspersky: Na verdade, temos ferramentas gratuitas que podem ser baixadas em nosso site (http://www.kaspersky.com/virus-scanner): o Kaspersky Virus Removal Tool, o Kaspersky Rescue Disk 10 e o Kaspersky Security Scan. Não se trata propriamente de um antivírus; são apenas ferramentas úteis capazes de varrer seu software sob demanda e ajudar a localizar vulnerabilidades.

O fato é que o antivírus gratuito nunca será tão eficaz quanto o pago. Hoje, a segurança de software sofisticada não é um produto, mas um serviço prestado diariamente com uma infraestrutura absurdamente complexa (servidores, varreduras automáticas, inteligência artificial que está determinando novos tipos de malware, bancos de dados gigantescos atualizados diariamente, especialistas de primeira linha, etc.). E um serviço de boa qualidade não pode ser prestado gratuitamente.

P: Há milhões de dispositivos conectados à Internet e a previsão é de que ainda aumente – inúmeros novos smartphones de baixo custo estão chegando ao mercado, a Internet será integrada em carros, refrigeradores, micro-ondas, TVs. A Google e sua turma do Vale do Silício estão lançando novas tecnologias; por exemplo, realidade aumentada, Google Glass, etc. E todas elas são portas de entrada e ferramentas em potencial para a mídia social. Eles pensam na questão da segurança?

Eugene Kaspersky: Na maioria dos casos, os fabricantes nem pensam em segurança. O Homo sapiens foi criado assim: primeiro nos preocupamos com nosso conforto, preços interessantes e depois… tudo o mais. Os problemas de segurança normalmente são a última coisa que vem à sua mente. E, na maioria dos casos, tarde demais.