19 fevereiro 2016
Os olhos da terra
Como o planeta observa, er, o mundo [sic.]; digo, onde estão seus olhos? Pode parecer estranho, mas são os telescópios!
Telescópios veem em tamanhos, formas, tipos e usos diferentes: existem telescópios de rádio/gama, diversos modelos de telescópios espaciais e telescópios óticos – que medem mais de um metro de diâmetro. Desses últimos, apenas algumas dezenas ou centenas ainda existem no mundo. No entanto, os poucos que sobraram, estão em locais adequados. Na verdade, para ser preciso, temos apenas três. Eles podem ser encontrados no Havaí, Deserto do Atacama ao norte do Chile (ainda não estive lá) e nas Ilhas Canárias (estive lá em um rápido fim de semana). Todos os três locais possuem bastante ar puro e seco e condições climáticas estáveis, além de estarem distantes de possíveis ofuscamentos por conta da cidade – condições astronômicas e climáticas ideais.
Em Tenerife, na semana passada, depois da SAS 2016, decidimos que iríamos dar uma olhada nesses grandes telescópios. Já que estávamos lá esperávamos ter um papo com os astrônomos/astrofísicos, saber como os aparelhos funcionam, e tirar as fotos de sempre (onde quer que fosse permitido; no fim era permitido em quase todos os lugares :).
Existem dois centros de telescópios nas Canárias – o Observatório Teide em Tenerife e o Observatório do Roque de los Muchachos em La Palma. No primeiro, existem principalmente telescópios de observação solar; no outro de observação de estrelas.
Os telescópios solares são relativamente pequenos em tamanho (por volta de um metro de diâmetro), já que lentes gigantescas não são necessárias. Mas aqui em La Palma, os telescópios de estrelas estão longe de ser pequenos: um telescópio gama de 17 metros de diâmetro e o maior telescópio ótico do mundo – o Gran Telescopio Canarias com 10,4 metros
Mas primeiro, vamos voltar um pouco: deixe-me contar um pouco sobre o telescópio em Tenerife…
Aqui estão, as belezuras. Só pudemos ver os telescópios de observação estelar, já que a visita ocorreu no meio da noite (estávamos muito ocupados durante o dia). Vimos um IAC80 e um Carlos Sanchez. Não vimos nenhum telescópio solar – eles só podem ser vistos de dia, quando há sol.
Não é preciso dizer que tudo aqui é controlado por computador. Astro-ICS :)…
Er, talvez eu tenha falado cedo demais. Eu disse que era tudo controlado pelo astro-ICS, mas olha só o que achamos mais tarde: uma alavanca de madeira bem caseira na ponta de uma corda, e acredito que isso seja fita adesiva, prateada (vanguardista!).
O Gran Telescopio Canarias na ilha vizinha de La Palma é bem mais impressionante por ser imenso. Uau! Esse sim é um verdadeiro instrumento mamute astronômico! “A gente devia ter vindo direto aqui e pulado Tenerife! ” um dos nosso companheiros comentou.
A plataforma redonda, a engenhoca em cima dela, mais o espelho pesam 450 toneladas. Já que em telescópios a menor vibração não é permitida, os mecanismos de movimentos são baseados em óleo – sem engrenagens provocando atrito. Descobri que se você der um empurrão na estrutura no chão do lado de fora da base, você pode virá-la! Então um único ser humano pode mover um dispositivo de 450 toneladas! E é isso que eu chamo de lubrificação!!
Em caso de emergências – o bom e velho botão vermelho…
E assim como em Tenerife, tudo está na rede e é computadorizado (fora algumas alterações, claro).
Bem, deixando o seguro ICS de lado, vamos pensar no que todo esse complexo faz? Digo, como a luz de estrelas distantes alcança ganhadores do prêmio Nobel de astrofísica por meio de toda essa aparelhagem?
Eis o que o especialista à frente do tour nos disse:
“O GTC [Gran Telescopio Canarias] monitora objetos com uma magnitude aparente de 28, o que é feito em 30 minutos de exposição para cada foto. Mais tarde eles compilam todas as fotos e somando todas elas chegam a durar 10 horas de filmagem. ”
Muito legal.
Então, como tudo funciona?
A luz de estrelas e galáxias distantes é refletida no espelho de 10,4 metros: então, a luz é refletida de um segundo espelho de quase um metro; a luz entra na “torre” no meio do espelho principal (essa torre é visível nas fotos); e a partir daí, ela viaja para diversas câmeras localizadas ao longo das bordas do espelho principal. A luz tem sua foto tirada por óticas diferentes, espectrometria, polarímetros e outras invenções misteriosas.
Continuando nosso tour noturno pelas instalações…
… finalmente o encontramos: o maior e mais astrofísico espelho do planeta!
Espelho gigante? Hora do selfie no reflexo! Um selfie no maior espelho na maior câmera!
Parece que ela não será a maior câmera do mundo por muito tempo. Existem três ainda maiores sendo construídas, enquanto você lê esse post: o Telescópio Gigante de Magalhães no Chile (15,2 metros), o Telescópio de Trinta Metros no Havaí e o European Extremely Large Telescope (39 m; europeu, mas no Chile; hummm.). Esses telescópios titânicos têm inauguração prevista para 2020, 2022 e 2024 respectivamente.
Existe também um projeto russo – o Gargarin Telescope – mas os planos nesse caso ainda estão no papel. Ainda assim, esses planos são bem ambiciosos. Se tudo ocorrer como esperado, ele será o maior dos megatelescópios – com um espelho com 60 metros de diâmetro!
Não tenho certeza, se a estimativa de custo é real, ainda mais nesses tempos de dificuldades financeiras, já que o projeto parece ser tão descomunal: dois bilhões de dólares (o Gran Telescopio Canarias custou 130 milhões de euros, e o europeu de 39 metros custou um pouco mais de um bilhão).
Contudo, existe esperança.
Primeiro, o projeto Gargain é patrocinado pela Moscow State University. Segundo, a produção do dispositivo por inteiro está planejada para ocorrer na Rússia – não teremos preços superestimados pela importação por conta do baico valor do Rublo. Terceiro, a previsão orçamentária do projeto foi calculada anos atrás; agora, por conta de mudanças expressivas nas taxas comerciais, o custo do projeto em dólares será bem menor. Quarto, será construído ao longo de 10 anos – otimizando redução de gastos.
Até agora, o que o mundo possui é realmente bem legal, mas, como os astrônomos das Canárias me disseram (com olhos esbugalhados e boquiabertos), quando o Gargarin estiver de pé, o mundo terá algo muito melhor.
Mas, espera aí; o mundo realmente precisa de outro telescópio maior ainda? Já não há o suficiente? Na verdade, não – eles nunca serão suficientes. O universo é infinito (ou quase), então estudá-lo demanda tempo infinito (ou quase) e muitos recursos. Não importa quantos telescópios existam, eles sempre serão poucos… bem como os centros de dados para processar toda a informação que eles coletam. Então, sim – super apoio a ideia de um mega telescópio com um espelho de 60 metros de diâmetro. Estou pronto para me envolver no que diz respeito a cibersegurança de software!
Enquanto isso nas Canárias, a vista do super telescópio é essa:
O que mais posso dizer sobre o telescópio e o observatório que o abriga?
1. Você não conseguiria olhar através das lentes do telescópio do mesmo jeito que você faz com uma câmera; você pode olhar “através das lentes” na tela de um computador.
2. Vi o seguinte em um canto, pensei: “astro-Photoshop’!
3. Assim como qualquer outro objeto, o espelho empoeira. Ele é limpo como um jato de alta pressão de dióxido de carbono, e ocasionalmente os elementos do espelho são desmontados e enviados para polimento.
Tive que tirar mais uma selfie…
4. Aqui, bem pertinho do GTC acontece o Starmus Festival. Tenho que vir para o próximo, que vai ser neste ano.
Sempre há grandes nomes da ciência, astronomia e viagem espacial participando do festival – além de música rock! Rick Wakeman já é conhecido por participar, bem como Brian May, que além de ser guitarrista do Queen, é também astrofísico!
5. Os astrônomos escolheram o local perfeito para o “escritório”. Com cenários lindos e o clima ensolarado perfeito.
6. Aqui estão os telescópios Galileo e MAGIC, mas infelizmente só os vimos pela janela do ônibus; ficamos sem tempo para uma visita mais detalhada.
7. E finalmente… você sabe de onde vem o nome “Ilhas Canárias”? Não, não é do pássaro, mas da palavra latina para “cachorro”! “Ilhas Cachorro”. Não tem o mesmo apelo, não é?
Todas as fotos do Observatório do Roque de los Muchachos estão aqui.