31 outubro 2019
Se eu ganhasse dinheiro toda vez que me fizeram essa pergunta nos últimos 30 anos…
Oi pessoal!
Vocês podem adivinhar qual foi a pergunta que eu mais respondi durante todas as minhas entrevistas e coletivas de imprensa?
Tudo começou nos anos 90, e rapidamente se tornou aquela pergunta que me dá vontade de virar os olhos (mas sempre resisti à tentação). Então, depois de alguns anos, eu decidi simplesmente aceitar que seria inevitável e comecei a improvisar e adicionar uns detalhes às minhas respostas. E ainda hoje, com minhas declarações publicadas em praticamente todos os veículos de comunicação do mundo – mais de uma vez – continuam me perguntando, de novo e de novo. Ultimamente, porém, parece que eu completei um ciclo: quando me perguntam sobre o assunto eu até gosto de lembrar daqueles dias.
Então, já deu pra descobrir?
A pergunta é: Qual foi o primeiro vírus que você descobriu? (mais questões relacionadas a ele, como quando eu o encontrei, como eu o removi do computador infectado, etc).
Claro que é uma questão importante, porque se eu não estivesse lá quando meu computador foi infectado, eu não poderia ter feito uma mudança drástica na minha carreira; eu não poderia ter criado o melhor antivírus do mundo; eu não poderia ter criado uma das maiores companhias privadas de cibersegurança do planeta, e muitos mais. Então, sim, aquele vírus teve um fatídico papel – ameaça que era precursora do que viria a seguir: bilhões de “descendentes”, depois cibercrimes, ciberguerras, ciberespionagens, e todas os cibermalvados por trás de tudo – em todo o canto do planeta.
Enfim – a resposta finalmente, talvez?
O nome do vírus era Cascade.
Mas por que, de repente, toda essa nostalgia sobre o Cascade?
É bastante simples: neste ano – 2019 – faz 30 ANOS do momento em que o Cascade foi capturado. E isso significa que também já faz 30 ANOS desde que eu comecei a trabalhar diretamente nesta profissão.
Meu Deus. 30 anos?! Bom, é um bom aniversário para ser comemorado (eu me pergunto: quantos outros especialistas em cibersegurança daqueles tempos ainda estão na ativa?), e também é um número redondo – um jubileu, até. E a ocasião me fez pensar em alguma nostalgia análise estatística (como um matemático convertido em especialista em cibersegurança, naturalmente). Afinal, esses 30 anos praticamente representam a linha do tempo completa da evolução das ciberameaças, o que vale a pena dar uma olhada, com certeza. Certo, de onde começamos? Ah sim, 30 anos atrás.
E por onde começamos? Ah sim… AH NÃO! Aquela questão! Ok, mais uma vez não vai doer: “Como você pegou o Cascade?” 🙂
Recapitulando – não muito antes de meu computador ter sido infectado com o Cascade
A primeira vez que li sobre vírus em computadores foi em uma revista soviética sobre informática nos anos 80. A União Soviética estava entrando nos seus dias finais e havia a glasnost, a Perestroika e as cooperativas. Também apareceram pela primeira vez publicações inteiras sobre computadores.
Por alguma razão, eu fiquei bastante curioso sobre os vírus. Eu fiz uma anotação pessoal – e também disse ao gerente de onde eu trabalhava (nada a ver com vírus) – que existia esse tipo de coisa e que o inventário do computador no trabalho precisava ser checado de tempos em tempos para ver se havia sido infectado.
Para isso, disseram que existia um disquete com alguns programas “antivírus”. Naquele tempo eles eram distribuídos como shareware; você poderia usá-los gratuitamente, e se você gostasse poderia enviar uma quantia aos desenvolvedores (naquela época eu mal tinha dois rublos na carteira, então o utilizava como um freeware, não que eu estivesse usando para fins comerciais). Se minha memória não falha, existiam dois antivírus no disquete: VIRUSCAN, feito pelo próprio John McAfee, e o ANTI-KOT, um produto soviético desenvolvido pelo programador Oleg Kotik.
Então, uma vez por semana ou mais, eu checava se havia vírus em meu computador. Daí, um dia, no outono de 1989, precisamente 30 anos atrás, meu ANTI-KOT detectou o Cascade. Então eu removi a infecção para limpar o computador. Também fiz uma cópia dos arquivos infectados. Mais tarde, quando arranjei algum tempo, eu desmontei o código do vírus, criei um programa de desinfecção e compartilhei com amigos e colegas; e daí, como dizem, foi que a roda começou a girar….
Alguns meses mais tarde, muitas pessoas vieram me procurar constantemente em busca de soluções para seus pobres computadores infectados. Uau. De repente, não era só curiosidade, mas também era excitante, e como sou muito curioso e gosto de emoção, eu estava “no chocolate”, como falamos na Rússia. Foi aí também que senti que eu não estava no caminho profissional correto. Será que manter computadores a salvo era a coisa certa pra mim? Então deixei meu emprego para entrar em uma cooperativa de computadores para começar a desenvolver profissionalmente antivírus – alguns como esse:
Meu Deus, 30 anos desde esses primeiros passos? É difícil lembrar de tudo. Por isso, desenhamos este infográfico retrô pixel-art descrevendo todos os principais eventos do último “quase terço de século” no mundo da virologia e antivirologia de computadores. Clique para a versão completa:
Alguns dos dados utilizados neste infográficos são curiosamente interessantes. Por exemplo, este gráfico mostra o aumento exponencial na atual década de malware que detectamos (os dados de 2019 representam os primeiros seis meses do ano):
Aqui está o gráfico de crescimento de ameaças para dispositivos móveis:
E aqui – malwares para Linux:
E para MacOS:
Observando o infográfico, você percebe o quanto o mundo mudou nos últimos 30 anos. Houve alguns eventos genuinamente históricos – desde o colapso da União Soviética e a criação da União Europeia, até a clonagem de organismos vivos e o surgimento da Internet como a conhecemos hoje. O que torna ainda mais gratificante lembrar que nós na Kaspersky não mudamos muito o que definitivamente fazemos- proteger o mundo contra ciberameaças, não importa o que aconteça. Nossos métodos mudaram, com certeza – bastante – mas a missão não mudou. E, à medida que avançamos na terceira década como empresa, é ainda mais gratificante saber exatamente em que direção estamos seguindo neste mundo em constante mudança – e como torná-lo ainda melhor.
Eugene compartilha sua história sobre como ele entrou nos negócios da cibersegurança há 30 anos e algumas estatísticas interessantes que representam quase toda a evolução dos malwares.Retweet