16 março 2016
Do México à China
Atenção! Estamos transmitindo diretamente do aeroporto de Tijuana! Esse é o começo de um reality show sobre um viajante tentando voar do México à China. Bem-vindos a bordo!
O jeito mais conveniente de chegar na China a partir de Cancun é pelo seguinte trajeto: Cancun -> Cidade do México -> Xangai (com parada para abastecer). Infelizmente, dessa vez, essa rota não funcionou. O aeroporto Pudong de Xangai estava fechado por problemas técnicos: uma neblina daquelas. O que nos redirecionou para a cidade mais ao norte do México, Tijuana, à espera da decolagem.
Essa parte do México é bem remota, muita gente nunca virá aqui ou nunca sequer ouviu falar. Isso tudo só serve para deixar a cidade mais interessante. Tijuana é conhecida como a terceira cidade mais próspera do México (atrás de Cancun e da Cidade do México). Isso talvez se deva à proximidade com os Estados Unidos, bem ali do outro lado da fronteira, possibilitando a instalação de diversos tipos de fábrica, ainda mais por conta da estrutura de saúde barata (mas decente). Além disso, é um dos lugares mais criminalizados do México suprindo drogas e imigrantes ilegais para os EUA. Nada bom…olhando para o centro da cidade (da varanda do meu hotel) tudo parece bem tranquilo – lembra lugares como Califórnia e Flórida.
Já o tempo não é nada como o da Flórida. Lá fora, trovões, o vento chacoalha o vigésimo oitavo andar uivando e assoviando. A chuva estava infiltrando pela janela aparentemente selada, se espalhando pelo quarto todo.
Duas horas passaram do tempo previsto para a decolagem e nada do avião. “E o vento levou”©. Parece que perderam o avião. Com minha mala lá dentro. Ou perderam a tripulação, que dá no mesmo.
Cansado de ficar sentado, comecei a vagar pelo saguão do aeroporto, tirando fotos:
A noite se aproximava, os bares e lojas começaram a fechar, a Internet também foi embora – acho que desligam os roteadores antes de irem para a casa… ou não. Foi o tempo gratuito que expirou, recomeçando outro. J
Sim, a Internet é de graça, a velocidade não é ruim (para o México), mas se você quiser usar VPN para acessar seu e-mail, esqueça! Fiquei sem entender, já que funcionava no hotel, em Cancun (incluindo no aeroporto) – mas nada nos aeroportos de Tijuana e Cidade do México. Por que será?
Finalmente! Depois de 5 horas de espera, hora do embarque. Parece o mesmo avião, acho que ele foi encontrado! Já a tripulação, essa era outra. Não faço ideia do que isso quer dizer.
Não deixe o mapa enganá-lo – ainda não levantamos voo… duas horas e quarenta e cinco minutos depois, nós pousamos… na Cidade do México.
Vista da Cidade do México pelos olhos de um viajante cansado:
Isso ocorreu depois de uma estadia inesperada em um hotel em Tijuana, e horas de procura pelo avião perdido no aeroporto. O pior disso tudo são as filas quilométricas em que você tem de entrar toda vez que embarca e desembarca em um aeroporto. Com o voo foi cancelado, e de modo a respeitar convenções de direitos humanos da ONU, as companhias aéreas tem de prover aos passageiros acomodação (o que inclui o hotel e transporte do aeroporto para lá e vice-versa). Todos juntos de volta ao aeroporto, imprime-se novos cartões de embarque para todo mundo.
Em Tijuana, o número de vouchers emitidos pela linha aérea foi… deixe-me pensar:
- Voucher do hotel;
- Voucher para o táxi, de ida para o hotel;
- Mais um para o voucher de volta para aeroporto;
- Voucher para o café da manhã, um para o almoço e mais um para o jantar (mesmo que o check-out fosse às 3 da tarde.)
- Voucher para o voo do dia seguinte (que seria trocado pelo cartão de embarque);
- Um pedaço de plástico inútil que nos identificava como passageiros em trânsito.
- Um total de 8 voucher diferentes. OITO!
Todos esses vouchers foram digitados e impressos com a falta de pressa típica do México. Levou cinco minutos por passageiro, isso sem contar perguntas adicionais. Quantas pessoas cabem em um Boeing 787? Bem, todos os passageiros tiveram de passar por isso sendo atendidas por quatro, cinco ou seis funcionários da Aeroméxico que emitiram os vouchers. Explica as filas.
Dei sorte em Tijuana: estava sentado na primeira fila e fiquei na frente de quase todo mundo na fila do voucher. Tive menos sorte na saída – tive de ficar na fila por quase uma hora. Menos sorte ainda na chegada à Cidade do México: não corri para a fila, então fiquei entre os últimos passageiros a serem atendidos. Então, liguei para Moscou na manhã do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, feriado na Rússia. Melhor do que os parabéns pela data, só um “Vera, preciso que você faça algo para mim.” Resumindo, desisti do México. Hora de buscar outra rota.
A propósito, essa é a camisa com que voei o tempo todo.
Já que minha mala estava trancada no avião, não consegui pegá-la, então tive que viajar com essa camisa verde com o logo da KL. As pessoas reconheceram o logo. Companheiros de viagem, funcionários do hotel, taxistas. Todo mundo nos conhece no México! Fiz alguns novos amigos por aqui.
Infelizmente, nossa aventura de dois dias terminou ontem. Todo mundo seguiu seu caminho. Alguns cancelaram a viagem para a China por estarem indo para o fim de uma exposição, que depois desse atraso já havia acabado. Outros, como eu, escolheram uma rota diferente.
Olha só o que pensei: esse será o meu quarto voo em uma semana. Nesse ritmo, baterei meu recorde ainda no começo do ano. Só não sei se viverei para isso.
Hora de fechar a mala, organizar os últimos detalhes e pé na estrada. Passei tempo demais sentado aqui.
Um último olhar nada saudoso pela janela. Lá vamos nós.
Finalmente a caminho…
Cheguei ao destino final há um dia, sendo que fiquei incomunicável nos últimos dois dias – livros permaneceram fechados, sem laptop também. Um voo de 10 horas entre Frankfurt e Xangai, mais três horas para Sanya – quando cheguei, não passava de um zumbi. No dia seguinte até tentei abrir os olhos, foi em vão.
Por coincidência, nosso avião estacionou ao lado do avião da Aeroméxico (calda aparece na foto) – ele chegou um pouco antes do Lufthansa em que vim.
Ainda acho que fiz bem em voar pela Alemanha: no México juntaram dois voos em um, sem garantir os assentos (mesmo na classe executiva). Na Alemanha me asseguraram que tudo seria tranquilo – e foi, do jeito que eu gosto, com assento na janela e tudo.
Recapitulando
Por necessidade, tive de sair de Cancun no México, para Sanya na China. Isso quer dizer sair da latitude de 21°norte 86° oeste para 18° norte 109° leste. Isso torna esses dois pontos praticamente opostos (relativo ao pólo Norte).
Existem três formas de se fazer essa jornada: pelo México, Europa e Estados Unidos.
Nem considerei a terceira opção, trocar de voo nos EUA é tão problemático que eu prefiro passar mais 6 ou 8 horas em aviões e aeroportos do que duas ou três em uma confortável fila estadunidense. Obrigado, só que não, já tentei antes.
Com isso restam duas opções, ambas mais demoradas (as duas passando por Xangai).
A opção pelo México: tempo no ar 2+3+14=19 horas (Cancun-Cidade do México -Tijuana-Xangai, voando em uma mesma companhia aérea, com duas paradas).
Pela Alemanha: 10+10=20 horas (por Frankfurt, uma escala – companhias aéreas diferentes, ou seja, você precisa pegar e despachar sua bagagem de novo).
A opção mexicana é sem dúvida mais viável. Para melhorar, eles voam com um Boeing 787 (Dreamliner) para rotas de longa distância. Eu queria repetir uma rota feita anteriormente.
Infelizmente, não saiu como o planejado por conta da neblina no aeroporto Pudong de Xangai (muitos voos, incluindo o nosso foram cancelados), mais a falta de rapidez do pessoal do aeroporto, o que impactou diretamente no tempo de deslocamento que não foi nem perto do planejado:
19 horas para chegar em Xangai + 3 horas de voo para Sanya. Temos ainda 10 horas em solo (transfers e trajetos de ida e volta para aeroportos), isso nos deixa com 32 horas de um ponto ao outro.
Foi assim que aconteceu
2+3+3+10+10+3 = 31 horas no ar e vai saber quanto tempo em terra, um total de 3 dias e 14 horas!!! Esse é meu relato pessoal. A única ocasião que levou mais tempo foi quando voei para o Polo Sul. Viagem que levou 7 dias e meio para chegar ao destino.
Já Sanya, é nebulosa, não muito quente, mas calma e receptiva. Valeu a pena voar até aqui.