3 julho 2020
CIBERPASSADO: SEXTA PARTE – Falando com a mídia
Na semana passada, percebi que completei um trimestre inteiro em lockdown / isolamento / quarentena. Três meses em casa, com apenas algumas breves viagens ao escritório deserto, além de todo fim de semana na dacha com a família igualmente isolada. Assim como tem sido para todos, uma existência diária muito extraordinária. Para mim (sem aviões/aeroportos, hotéis, reuniões ou discursos, enfim), poucas viagens.
No entanto, tudo é relativo: em três meses, viajamos mais de 230 milhões de quilômetros (um quarto de uma órbita completa da Terra ao redor do sol)! E isso sem levar em conta o fato de que o próprio Sistema Solar viaja a uma velocidade louca. Uma coisa que não mudou muito desde o início do lockdown são as reuniões de negócios – elas simplesmente foram todas transferidas para o ambiente online. Ah, sim: e todos os nossos negócios em geral estão funcionando como de costume, não afetados por vírus biológicos).
Mas chega de conversa fiada; minhas histórias do ciberpassado; desta vez, entrevistas com jornais, revistas, rádio, TV, além de várias outras apresentações públicas. (Lembrei da minha atividade de “relações com a mídia” ao contar sobre minha semana de entrevistas na CeBIT há muito tempo, outro dia, ao compilar minhas lembranças do CeBIT (Ciberpassado: quarta parte). E acontece que tenho muito a contar sobre experiências interessantes conversando com a mídia e falando em público, e tudo mais (muitas coisas divertidas e incomuns, além de, claro, algumas fotos (brilhantes e polidas) também).
E também tenho todo tipo de histórias com a mídia: de discursos em salas praticamente vazias a estádios lotados! Desde pequenas publicações de mídia locais desconhecidas até conglomerados de nomes de família de mídia global de primeira linha! Desde palestras profissionais nas principais universidades e/ou com públicos especialistas em tecnologia até palestras informais sobre as maravilhas da aritmética em um navio indo para a… Antártica via Passagem de Drake!
Certo. Eu acho que o mais lógico é começar pelo início…
De alguma forma, percebi intuitivamente a importância e a necessidade da relação com a mídia desde o começo – no início dos anos 90. Então fiz o que pude: escrevi artigos que foram publicados em revistas de informática, enquanto também comecei a discursar em conferências. Mas foram apenas meros passos de bebê; eu queria mais, e entendia que ‘mais’ era categoricamente necessário.
Naqueles tempos, o tópico antivírus ainda não era relacionado com a seriedade da “cibersegurança”; era tudo meio brincadeira de criança, pouco profissional, e certamente não interessava aos adultos. Mas, por alguma razão, achei que isso não estava certo e que a luta contra as ciberameaças estava apenas começando. E que não eram apenas as “pragas de computador” que estavam circulando, e que essas criações não se resumiam apenas às necessidades de autovalidação de adolescentes autodidatas. Às vezes, profissionais habilidosos estavam por trás dessas ameaças, mas não por dinheiro (naquela época não havia dinheiro na/via internet), mas apenas para satisfazer alguma necessidade estranha de se provar “ótimo”. Consequentemente, isso não pode ser descrito como cibercrime, apenas cibervandalismo.
A necessidade especialmente aguda que eu tinha de contar tudo sobre vírus de computador e os programas e tecnologias antivírus que os combatiam surgiu após o CeBIT 1992 – meu primeiro evento global de TI no exterior. Fiquei quase obcecado com a ideia de que “as pessoas precisam saber disso!”, mas naquela época ninguém na mídia estava interessado, pois quase ninguém do público em geral também estava interessado, já que a tecnologia antivírus ainda era muito nova. Então o que eu fiz? Eu me entrevistei! Escrevi uma lista de perguntas, respondi-as, enviei tudo para a revista Computer Press da Rússia e a “entrevista de perguntas e respostas” foi publicada em maio de 1992!
Nesta autoentrevista, que fiz uma análise meio profética, disse que o mais promissor para a indústria de computadores russa naquela época não era construir e vender produtos finais (era impossível na época), mas o desenvolvimento da tecnologia que entra nos produtos no Oeste ou no Leste. E, como se viu, cinco anos depois estávamos fazendo exatamente isso – licenciando nosso mecanismo antivírus (para os finlandeses) –, o que se tornou o principal negócio da nossa empresa! Foi nesse licenciamento que sobrevivemos, obtivemos renda para investir no desenvolvimento de novas tecnologias, ajustamos nossa linha de produtos e, posteriormente, conquistamos o mercado global. Recomendo cuidado com aquilo que você deseja em autoentrevistas.
Depois de estrear com o artigo Computer Press, minha atividade na mídia foi aumentando. No ano seguinte, participei com mais alguns artigos. Um deles era relativamente curto, no qual dois colegas e eu fomos entrevistados, mas, como no episódio de autoperguntas da Computer Press, foi profético. Estava na revista British Virus Bulletin e tinha o título: ‘Os russos estão chegando!‘. Ha ha, engraçadinhos. O ponto é que o título era verdadeiro. Nós estávamos chegando! E se avançarmos para 2007, foi nesse ano que o nosso volume de negócios ultrapassou o da empresa britânica de antivírus Sophos – a mesma que fundou e possuía o mesmo Virus Bulletin! Tenha cuidado com o fala.
Seguindo…
Em 1994, vencemos o primeiro concurso internacional de testes de antivírus em larga escala da Universidade de Hamburgo. A vitória em si foi incrível; as menções que continuamos recebendo em várias publicações especializadas depois – um mega bônus! E nessa época, além de nossa participação regular na CeBIT, começamos a dar nossos primeiros passos tímidos nas plataformas de relações públicas de outros países. Por exemplo, no Reino Unido, onde duas histórias em particular se destacam em minha memória…
A primeira eu não lembro exatamente quando aconteceu. Em algum momento de 1999, decidimos organizar uma turnê de imprensa para a mídia britânica. Enviamos convites, reservamos uma sala de conferências em um hotel de Londres e fomos para lá. A expectativa era alta… mas as coisas não foram saíram exatamente como gostaríamos. Praticamente todos os jornalistas que vieram nos ver, um após o outro, disseram praticamente a mesma coisa: “No Reino Unido, temos a Symantec, McAfee, Trend Micro e até a nossa Sophos. Por que precisamos de vocês?!”
Uau. A única coisa a se fazer era dizer a eles diretamente o motivo: nossas tecnologias únicas – e melhores; como somos muito melhores do que as outras em pegar o mais temível dos vírus polimórficos e mutantes de computador; quão profundamente podemos procurar arquivos infectados em arquivos e instaladores (ninguém mais chegou perto); e por último e mais importante: nossa tecnologia totalmente exclusiva para bloquear as dores de cabeça mais comuns das pessoas de segurança de TI na época – vírus de macro. A reação foi algo como “Ah. Entendi. Interessante. Na verdade (onde está minha caneta?) O que você disse?… Polimutando o macro-mórfico O QUÊ?!”
A segunda história curiosa da Inglaterra ocorreu um pouco mais tarde – em 2000 – quando tivemos a coragem de fazer um discurso de apresentação na conferência de cibersegurança de Londres, Infosecurity Europe. Publicamos um anúncio, reservamos o quarto e, quando chegou a hora, esperamos pelas ‘multidões’. E, bom… no meu discurso apareceram duas pessoas, que eram da Virus Bulletin, que já conhecíamos há anos. Indiferente, contei a eles tudo sobre as últimas ciberameaças e dei meu prognóstico de como era o ciberfuturo- como se a sala estivesse lotada com uma audiência de mais de 100 pessoas).
Os russos têm um ditado: “A primeira panqueca sempre se torna um torrão” Bem, com certeza é o ditado certo para a minha primeira apresentação em Londres. Mas ninguém nunca disse que virar a primeira panqueca é inútil). Valeu a experiência; um primeiro passo necessário na direção certa – em direção a um trabalho sério de relações públicas e mídia. // Na verdade, alguns observadores daquele primeiro fracasso de panqueca consideram que a sala estava praticamente vazia porque tínhamos reservado a apresentação para a hora do almoço: todo mundo estava pensando em suas barrigas, não em cibersegurança! Aprendendo com os erros – no ano seguinte, escolhemos um horário mais adequado, e a sala estava lotada – tão lotada que algumas pessoas tiveram que ficar ao longo das paredes e nos corredores!
Desde Londres, meus discursos continuaram – às vezes em salas pequenas, às vezes em vastos salões, como aquele na Bosch Connected World, que aconteceu em fevereiro de 2018:
E isso sem contar que esses discursos se espalharam geograficamente, como fizemos como empresa; pois a cibersujeira está em todo lugar. E nós vamos onde ela está, então também estamos em todo lugar. Por exemplo, nos EUA…
Tem uma história engraçada da conferência da RSA em São Francisco, em algum momento dos anos 2000. Eu não gosto de chegar para fazer um discurso mais cedo do que o necessário, e prefiro passear por perto e aparecer no local com apenas alguns minutos de antecedência (se possível). Mas desta vez na RSA, eu deixei para chegar tão tarde que… o segurança não me deixou entrar! “Está cheia!” Ele pensou que eu devia estar vindo assistir o orador. “Mas eu sou o palestrante!”, disse a ele. Depois de uma verificação rápida, ele concordou e me deixou passar.
Outra história memorável vem da Conferência do Virus Bulletin, em 2001. Fui convidado para fazer o discurso de abertura, para definir o tom da conferência. E como esse convite não é recebido com tanta frequência, decidi fazer algo mais do que apenas fazer meu discurso. Algo, digamos… louco…
Então, juntamente com dois colegas, organizamos o show: encenando uma versão alternativa e divertida – focada em vírus de computador – do filme cult De Volta para o Futuro, com Marty McFly, Doc, a máquina do tempo montada em um DeLorean e muito mais. E daí caiu uma tempestade! O público ficou histérico até a barriga doer (pude vê-los pegando as barrigas :). Curiosamente, após nossa discurso de apresentação folclórica sobre em TI e uma história alternativa e tudo mais, a conferência da Virus Bulletin ficou sem palestras por vários anos!
Detalhes da nossa apresentação inspirada em De Volta para o Futuro aqui.
Quanto ao maior público para qual já falei, aconteceu na China e é uma história e tanto. Foi assim: o diretor de nosso escritório na China organizou um concerto de música, convidando alguns dos principais cantores e artistas do país. O concerto aconteceu em um estádio praticamente cheio… Estádio Nacional de Pequim – sim, aquele estádio olímpico com um design louco e totalmente exclusivo – o Ninho do Pássaro (aliás, foi um ano após as Olimpíadas de Pequim em 2008). Então, tivemos um elenco com as principais estrelas pop, além de alguns números de ninguém menos que Jackie Chan. Em suma – MEU DEUS; e tudo isso sob a bandeira da nossa marca chinesa Kabasiji!
No meio do show, eu tive que subir no pódio lá no centro para dizer algumas palavras – como agradecimento a todos por terem vindo ou algo parecido – para as mais de 70 mil pessoas nas arquibancadas. Então, vesti a jaqueta nacional chinesa tradicional, suei bastante e disse meus agradecimentos. Mas não tão “ordenadamente”: minha maior audiência de todos os tempos – é claro que tinha que ter um vacilo…
Desde o início, fui solicitado a expressar meus agradecimentos em russo, e o apresentador de TV traduzia para chinês (na verdade – a tradução do meu discurso planejado estava toda no papel, na mão dela). Foi assim que tudo aconteceu durante o ensaio. Mas alguém disse que haveria convidados de outros países, então seria melhor se eu falasse inglês. Tentei insistir no russo (o embaixador russo estaria lá, e ele gostaria disso), mas eles permaneceram firmes. Então, chegou aos nossos 15 30 segundos de fama no pódio. Estamos lá, com minha cara nas telas grandes. Digo “obrigado” e algumas outras palavras que expressam gratidão e espero a tradução dela. Mas tudo o que ela faz é me perguntar: “E em russo?” Ela não tinha sido informada sobre a alteração de formato! Força maior. Caramba! As palavras no papel não coincidiam com o meu discurso – em inglês (ou algo assim). E lá estávamos nós apenas olhando um para o outro, olhos arregalados, perplexos, ambos pensando ‘oops’ (para dizer o mínimo, com uma “classificação livre” :). E continuamos assim por um tempo que pareceu uma eternidade! Felizmente, ninguém parecia se importar, pois havia muito aplauso e comoção.
Mas no final, resolvemos isso. Acabei dizendo: “Ah – pa-russky?”, E continuei fazendo o mesmo discurso em russo. Os olhos do apresentador brilharam de alívio e ela rapidamente se “traduziu” para o chinês. Ufaaaaaaaaa. Pronto. Mais sorrisos um para o outro, reverências, e de lá saímos: eu, de volta ao stand VIP… para torcer minha jaqueta verde!
Acho que qualquer outra história depois disso seria um pouco anti-clímax. Sim, um pouco; mas ainda tenho mais algumas para contar …
Como na vez em que estive na nossa Security Analyst Summit (SAS) no Chipre, em 2010: minha entrevista na TV local- foi no mar! Não foi minha ideia – juro! Foi desses dois jornalistas alemães).
Aqui está outra entrevista na TV, desta vez na praia – em Cancun (onde tivemos três conferências consecutivas). Não estou reclamando: muito melhor que um escritório ou centro de conferências abafados).
Depois, há situações fora do padrão em que às vezes me encontro – e se há uma câmera ligada, bem, por que não? Como no ano passado – no verão de 2019 – em um passeio de barco pelas Ilhas Curilas, quando dei entrevistas a um grupo americano de blogueiros-documentaristas que estavam fazendo um filme sobre o Extremo Russo na Ilha Seal, sob o barulho esmagador feito por zilhões de pássaros guillemot.
Houve um momento em que dei uma palestra sobre o navio de pesquisa Akademik Sergey Vavilov, que se aproximava da Antártica com um grupo internacional de artistas modernos. Havia muito tempo para matar, por isso cantávamos músicas pelas noite, enquanto durante o dia compartilhávamos histórias interessantes. Quando chegou a minha vez, contei a eles várias histórias ciberinesperadas, e em uma outra vez ocupei o cérebro deles com aritmética: como obter 2017 com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. Os primeiros ficaram chocados; o último, bastante surpreso.
Sei que houve outras configurações e situações bizarras no que se refere à minha atividade na mídia, mas preciso cavar ainda mais nos meus arquivos de fotos. Mas acontece que não tenho todo o tempo do mundo enquanto estou em isolamento – na verdade, tenho estado muito ocupado. Em três meses de confinamento, dei 10 entrevistas online a jornalistas de todo o mundo, participei de duas coletivas de imprensa e falei em cinco eventos, incluindo uma conferência de TI na Argentina com a participação de 30.000 sul-americanos – todos também sentados em casa!