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11.11: Celebração de 20 anos!

Saudações meninos e meninas!

Do nada, chegamos a outro marco histórico. Viva!
Nosso sistema operacional ciberimune – KasperskyOS – faz hoje… não, espera aí. Não é exatamente isso…

Há exatos 20 anos – em 11 de novembro de 2002 – iniciamos uma longa e sinuosa jornada; uma trajetória que, de fato, ainda se encontra em andamento. Um projeto grande e exponencial que mudará (e já está mudando!) muito o domínio global da cibersegurança. E isso não é hipérbole– é real. E para contar a história completa do nosso cibersistema operacional, precisamos voltar ao seu humilde começo, no início dos anos 2000…

Mas antes de voltar 20 anos, gostaria de dizer algumas palavras sobre este dia – 11 de novembro de 2022. Hoje, a maioria das pessoas – com acesso às tecnologias atuais – entende perfeitamente a importância crítica da cibersegurança. Trilhões de dólares são gastos no mundo todo nos sintomas da ciberdoença, mas quase nada é investido no tratamento de suas causas básicas. E a única maneira de quebrar o ciclo de curativos constante desses sintomas é uma revisão da arquitetura dos sistemas de computador, nada menos que isso. De acordo? Sim? Obrigado, de nada!

A primeira vez que tive um pressentimento sobre isso foi ainda mais cedo do que 20 anos atrás – no outono de… 1989! Pois foi então que meu PC foi infectado pelo vírus Cascade, o que me deixou muito curioso e me levou a começar a desenvolver proteção contra ele e todos os outros cibercontágios.

Assim, a curiosidade matou o gato foi o começo de tudo para nós. Foi por isso que nosso V antivírus apareceu pela primeira vez, mais tarde por que a Kaspersky Lab foi fundada e, mais tarde ainda, por que expandimos nosso atuação para todo o mundo.

Avançamos 12 anos após o Cascade, e minha compreensão da imperfeição dos sistemas operacionais existentes e a necessidade urgente de fazer algo sobre isso finalmente, digamos, foi materializada e veio à tona em um nível prático (desculpas desde já por contar detalhadamente essa nossa árvore genealógica, mas é, afinal, nossa herança:)…

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Ciberpassado, oitava parte: 1998-2000 (três estreias: reestruturação, escritório no exterior, conferência de parceiros)

Os primeiros anos após a fundação da empresa foram os mais difíceis de todos, porque realmente tivemos que suar de verdade, nos dedicar para valer. Era como se estivéssemos comprimindo uma mola para que ela fosse lançada mais tarde para levar a empresa ao alto e muito além do horizonte e na direção certa de sonhos ambiciosos (tenha cuidado com o que você deseja de verdade :). Após o registro formal da KL em 1997, com muito pouco fizemos muito. Não tínhamos dinheiro e quase nenhum recurso, mas o transportador de segurança cibernética não espera por ninguém: novas tecnologias eram necessárias e o mercado exigia novos produtos. Por isso, trabalhavam duro, na maioria dos fins de semana e quase sem férias. Então, no que estávamos trabalhando? Aqui está um exemplo …

Junho de 1998: a epidemia global do vírus de Chernobyl (CIH). As outras empresas de antivírus não perceberam ou não se incomodaram ou estavam de férias; nós éramos praticamente os únicos com um produto que não apenas detectava, mas também curava sistemas infectados com esse patógeno. O www (ou seja, não apenas o Runet 🙂 traçou links para o nosso site. Foi assim que fomos recompensados por nossas reações super-rápidas a novas ameaças – além de nossa capacidade de lançar atualizações rápidas com procedimentos para o tratamento de ameaças específicas. Embora essa ameaça específica a vírus tenha sido incrível e habilmente instalada na memória do Windows, chamadas de acesso a arquivos de forma geral e arquivos executáveis infectados – todos exigiram um processo de dissecção personalizado que seria impossível fornecer sem a funcionalidade flexível das atualizações.

Então, foi difícil: sim; mas estávamos obtendo resultados e crescendo. E então, dois meses depois, recebemos uma mão amiga (do destino ?!) do tipo mais inesperado …

Agosto de 1998: a crise financeira russa, com desvalorização do rublo, mais a Rússia inadimplente com sua dívida. Foi ruim para a maioria dos russos em geral, mas tivemos muita sorte: todos os nossos parceiros estrangeiros nos pagaram antecipadamente em moeda estrangeira. Nós éramos exportadores. Nossa moeda operacional / de trabalho – um rublo fortemente desvalorizado; nossa renda – dólares, libras esterlinas, ienes etc. Estávamos indo bem!

Mas não descansamos em nossos louros da sorte em meio à crise financeira. Usamos o período também para contratar novos profissionais – caros! – gerentes. Logo tínhamos diretores comerciais, técnicos e financeiros. E logo depois, começamos a contratar gerentes de nível intermediário também. Esta foi a nossa primeira ‘reestruturação’ – quando a ‘equipe’ se tornou uma ‘empresa’; quando as relações amigáveis e orgânicas foram substituídas por uma estrutura organizacional mais formal, subordinação e responsabilidade. A reestruturação poderia ter sido dolorosa; felizmente, não foi: seguimos sem muita saudade dos velhos tempos de clima familiar.

// Com relação a esse tipo de reorganização, reestruturação e ‘greengineering’ – eu recomendo o livro Reengineering the Corporation, de Michael Hammer e James Champy. É realmente muito bom. Outros livros úteis – aqui.

Em 1999, abrimos nosso primeiro escritório no exterior – em Cambridge, no Reino Unido. Mas, como o mercado britânico é talvez um dos mais difíceis de se inserir para estrangeiros, por que ir para lá? Na verdade, foi meio que por acaso (eu vou te contar como a seguir). Ainda assim, tivemos que começar em algum lugar e, de qualquer maneira, nossas primeiras experiências – incluindo muitos erros e lições aprendidas – no Reino Unido ajudaram a tornar o desenvolvimento dos negócios em outros países muito mais suave…

Nossa primeira turnê de imprensa ocorreu em Londres, já que estávamos na capital britânica para uma conferência de segurança de TI (InfoSecurity Europe). Na turnê de imprensa, anunciamos orgulhosamente nossa intenção de abrir um escritório no Reino Unido. Mas os jornalistas simplesmente perguntavam o motivo, já que já havia Sophos, Symantec, McAfee e etc. já confortavelmente estabelecidas no país. Então, mudamos para o modo nerd: contamos a eles tudo sobre como nossa empresa era verdadeiramente inovadora, tudo sobre nossas tecnologias e produtos exclusivos e como – por causa deles – somos melhores do que toda a concorrência que eles acabaram de mencionar. Tudo isso foi observado com muito interesse e surpresa (e outro bônus: desde então nunca foram feitas perguntas tolas!). Enquanto isso, na InfoSecurity Europe, dei meu primeiro discurso a um público de língua inglesa composto por … dois jornalistas, que eram nossos amigos no Virus Bulletin, que já sabiam muito sobre nós! Ainda assim, essa foi a primeira e a última vez que nossas apresentações não foram realizadas em casa cheia (mais detalhes: aqui).

No que diz respeito à nossa primeira conferência de parceiros, foi assim que tudo aconteceu …

Em algum momento do inverno de 1998-1999, fomos convidados para a conferência de parceiros do nosso parceiro OEM F-Secure (Data Fellows). E foi assim que aprendemos sobre todo o formato de conferência de parceiros e como é uma ótima idéia: reunir todos, compartilhar todas as informações mais recentes sobre tecnologias e produtos, ouvir as preocupações e problemas dos parceiros e discutir novas ideias. Como não somos de perder tempo – em um ano (em 1999), organizamos nossa própria conferência de parceiros, convidando cerca de 15 parceiros da Europa, EUA e México para Moscou. Aqui estamos todos, na Praça da Revolução, ao lado da Praça Vermelha e do Kremlin:

 

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Cibernotícias do lado sombrio: vulnerabilidades inesperadas, hacking como serviço e spaceOS

Nosso primeiro mês de verão em confinamento acabou. E, embora as fronteiras do mundo pareçam está se abrindo cada vez mais, nós da Kaspersky decidimos não arriscar e permaneceremos trabalhando em casa. Mas isso não significa que nossa performance diminuiu: afinal, os cibercriminosos com certeza não estão de folga. Não houve grandes mudanças no cenário global de ameaças recentes. Mesmo assim esses cibercriminosos, como sempre, tiram cibertruques de suas cartolas. Então, aqui estão alguns casos do mês passado.

Vulnerabilidade zero-day no “super seguro” Linux Tails

O Facebook com certeza sabe como gastar. E ele gastou uma quantia de seis dígitos quando patrocinou a criação de uma exploração zero-day em uma vulnerabilidade no sistema operacional Tails (Linux, especialmente ajustado para aumentar a privacidade). Essa vulnerabilidade foi usada em uma investigação do FBI, que levou à captura de um pedófilo. Já se sabia há algum tempo que esse criminoso usava esse sistema operacional específico – que é particularmente seguro -. O primeiro passo do Facebook foi usar sua força no mapeamento de contas para conectar todas as que o criminoso usou. No entanto, converter essa cibervitória em um endereço físico não deu certo. Aparentemente, eles ordenaram o desenvolvimento de uma exploração para um aplicativo de player de vídeo. Essa escolha de software fazia sentido, já que o pedófilo pedia os vídeos de suas vítimas e provavelmente os assistia no mesmo computador.

Foi noticiado que os desenvolvedores do Tails não foram informados sobre a vulnerabilidade explorada, mas depois foi descoberto que ela já estava corrigida. Os funcionários da empresa mantêm o controle sobre tudo isso, mas o que está claro é que uma vulnerabilidade encomendada não é a melhor publicidade existente. Ainda existe alguma esperança de que a ameaça tenha sido direcionada para uma única vida, particularmente desagradável, e que isso não se repita para um usuário comum.

O ponto principal é: não importa o quão super mega seguro um projeto baseado em Linux afirme ser, não há garantia de que não haja vulnerabilidades nele. Para garantir isso, todos os princípios básicos de trabalho e a arquitetura de todo o sistema operacional precisam ser revisados. Erm, sim, na verdade, esta é uma boa oportunidade para fazer isso).

Hacking como serviço

Temos outra história sobre ciberataque sob medida. O grupo de cibercriminosos Dark Basin (supostamente indiano) foi pego com a mão na massa. Esse grupo é responsável por mais de mil hacks sob encomenda. Os alvos incluem burocratas, jornalistas, candidatos políticos, ativistas, investidores e empresários de vários países. Curiosamente, os hackers de Déli usaram ferramentas realmente simples e primitivas: primeiro eles criaram e-mails de phishing feitos para parecer que são de um colega ou amigo, juntaram atualizações falsas do Google Notícias sobre tópicos interessantes para o usuário e enviaram mensagens diretas semelhantes no Twitter. Em seguida, eles enviaram e-mails e mensagens contendo links encurtados para sites de phishing de credenciais que parecem sites genuínos, e foi isso – credenciais roubadas, outras coisas roubadas. E é isso! Nenhum malware complexo ou explorações! E aliás: parece que as informações iniciais sobre o que uma vítima está interessada sempre vieram da parte que ordenou o ciberataque..

Agora, o cibercrime sob encomenda é popular e está por aí há tempos. Nesse caso, os hackers levaram o produto para um outro nível – transportador – terceirizando milhares de acessos.

Fonte

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CIBERPASSADO: SEXTA PARTE – Falando com a mídia

Na semana passada, percebi que completei um trimestre inteiro em lockdown / isolamento / quarentena. Três meses em casa, com apenas algumas breves viagens ao escritório deserto, além de todo fim de semana na dacha com a família igualmente isolada. Assim como tem sido para todos, uma existência diária muito extraordinária. Para mim (sem aviões/aeroportos, hotéis, reuniões ou discursos, enfim), poucas viagens.

No entanto, tudo é relativo: em três meses, viajamos mais de 230 milhões de quilômetros (um quarto de uma órbita completa da Terra ao redor do sol)! E isso sem levar em conta o fato de que o próprio Sistema Solar viaja a uma velocidade louca. Uma coisa que não mudou muito desde o início do lockdown são as reuniões de negócios – elas simplesmente foram todas transferidas para o ambiente online. Ah, sim: e todos os nossos negócios em geral estão funcionando como de costume, não afetados por vírus biológicos).

Mas chega de conversa fiada; minhas histórias do ciberpassado; desta vez, entrevistas com jornais, revistas, rádio, TV, além de várias outras apresentações públicas. (Lembrei da minha atividade de “relações com a mídia” ao contar sobre minha semana de entrevistas na CeBIT há muito tempo, outro dia, ao compilar minhas lembranças do CeBIT (Ciberpassado: quarta parte). E acontece que tenho muito a contar sobre experiências interessantes conversando com a mídia e falando em público, e tudo mais (muitas coisas divertidas e incomuns, além de, claro, algumas fotos (brilhantes e polidas) também).

E também tenho todo tipo de histórias com a mídia: de discursos em salas praticamente vazias a estádios lotados! Desde pequenas publicações de mídia locais desconhecidas até conglomerados de nomes de família de mídia global de primeira linha! Desde palestras profissionais nas principais universidades e/ou com públicos especialistas em tecnologia até palestras informais sobre as maravilhas da aritmética em um navio indo para a… Antártica via Passagem de Drake!

Certo. Eu acho que o mais lógico é começar pelo início…

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CIBERPASSADO: QUINTA PARTE – 1996 (O ano em que tudo mudou)

Aqui estamos, com mais histórias do passado e como nossa empresa passou de um começo humilde para o que somos hoje. E essa série  de ciberpassado, criada graças à… quarentena! De outra forma, eu nunca encontraria tempo para tantos meandros de cibermemórias.

Caso você tenha perdido, aqui estão os fascículos anteriores:

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

Beleza. Parte 5: 1996. Verdadeiramente um ano fatídico e divisor de águas…

Primeiramente, na KAMI, onde eu ainda trabalhava, os sócios decidiram se separar. Por isso, a empresa foi dividida em várias organizações independentes. E no ano seguinte – 1997 – também nos separamos.

Em segundo lugar, assinamos um contrato de OEM (fabricante de equipamento original, na sigla em inglês) com a empresa alemã G-Data, para fornecer a eles nossa tecnologia antivírus. Esse contrato durou 12 anos (até 2008!) quando nos tornamos o número 1 no mercado alemão de varejo. Foi assim que aconteceu. Nossa destreza tecnológica original era imparável! Mas o que deveríamos fazer? Enfim, foi a G-Data que nos abordou (não éramos capazes de procurar ativamente parceiros na época), oferecendo Remizov – chefe da KAMI – cooperação, culminando na assinatura do contrato na CeBIT, conforme descrito na Parte 4. E foi assim que nosso negócio de licenças de tecnologia decolou.

Depois dos alemães (em 1995) vieram os finlandeses – F-Secure (em 1996), então conhecidos como Data Fellows. Vou contar sobre como começou nossa cooperação com eles.

Em agosto de 1995, o primeiro vírus de macro apareceu, infectando documentos do Microsoft Word. Desenvolver este tipo de ameaça era muito simples e eles estavam sendo espalhados em uma velocidade alarmante entre muitos usuários desavisados. Isso chamou a atenção de outros criadores de vírus e, muito rapidamente, os vírus de macro se tornaram a maior dor de cabeça para a indústria de antivírus. Detectá-los estava longe de ser fácil, pois o formato de um documento do Word é mais complexo (quem sabia? :). Assim, por vários meses, as empresas de antivírus tentaram vários métodos, até que, no início de 1996, a McAfee (a empresa 🙂 anunciou o método de desmontagem “correto” para o formato de documentos do Word. Essas notícias foram divulgadas por nosso colega Andrey Krukov (que se uniou a nós em 1995) e ele rapidamente apresentou uma solução tecnológica mais elegante e eficaz. Fiz essa notícia correr e logo as empresas começaram a se aproximar de nós com ofertas para comprar nossa tecnologia. Tendo recebido várias dessas ofertas, marcamos um encontro com todas elas em um evento que iria acontecer- a Conferência do Virus Bulletin, em Brighton, Reino Unido, para onde Andrey e eu viajamos no outono de 1996.

Em Brighton, as coisas praticamente não saíram conforme planejadas: nenhuma das reuniões resultou em contratos! Contudo…

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Ciberpassado: quarta parte – CeBIT

Finalmente, o verão chegou. Já era hora! Mas não tenho certeza se é uma bênção como sempre, pois ainda estamos todos sentados em casa trabalhando remotamente. Certamente, houve ‘afrouxamentos’ aqui e ali ao redor do mundo, mas nós aqui na K não temos pressa em… apressar as coisas. Eu acho que isso vale também para outras empresas de TI que trabalharão em casa até o nosso próximo outono, enquanto algumas companhias indicaram que permanecerão em casa até o final do ano. E, é claro, as viagens de negócios ainda estão canceladas, assim como exposições e conferências, Jogos Olímpicos e Festival de Cannes, além de vários outros eventos de grande escala. Alguns países ainda estão com as fronteiras fechadas.

Então sim: todos nós ainda estamos presos, sem sair muito de casa, e ficando um pouco loucos com essa situação. Pelo menos é assim que as coisas estão para muitos, tenho certeza. Há quem aproveite todo o tempo extra e faça uma carga exaustiva de exercícios! Definitivamente não sou desse time, nem totalmente oposto. Às vezes cansado de viver a mesma coisa todos os dias, mas me mantendo ocupado. E isso inclui tirar o pó e vasculhar meus arquivos para desenterrar algumas fotos antigas, que levam a boas lembranças (além de lembretes da rapidez com que o mundo está mudando), o que leva a… meu próximo post sobre o ciberpassado!

Sim, esta série combina cibernostalgia, além de várias informações pessoais e comerciais que aprendi ao longo dessa longa trajetória em cibersegurança, espero que sejam úteis para alguns ou interessantes para outros. Enfim, sigo hoje com a parte quatro, e continuo minhas histórias, iniciadas na parte três, sobre a CeBIT…

CeBIT – nós amávamos demais! Era tudo tão novo e diferente e intenso e…

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Ciberpassado: terceira parte – 1992-199x

Caso você tenha perdido os primeiros posts, este é o terceiro episódio das minhas crônicas do ciberpassado. Já que estou de lockdown como a maioria das pessoas, tenho mais disponibilidade para relembrar a história da Kaspersky no mundo da cibersegurança. Normalmente, eu estaria em aviões, voando daqui para ali a negócios e turismo – o que ocupa a maior parte do meu tempo. Mas como nada disso – pelo menos offline/pessoalmente – é possível no momento, estou aproveitando para manter um fluxo constante de nostalgia pessoal/Kaspersky Lab / ciber-histórico: nesta publicação- do início até meados dos anos 90.

Um erro de digitação que deixa uma marca

No começo de tudo, todas as nossas ferramentas de antivírus eram nomeadas seguindo o modelo “- *.EXE”. Era, por exemplo, ‘-V.EXE’ (scanner antivírus), ‘-D.EXE’ (monitor residente), ‘-U.EXE’ (ferramentas). O prefixo ‘-‘ era usado para garantir que nossos programas estariam no início da lista em um gerenciador de arquivos (um bom geek segue todos os movimentos inteligentes das relações públicas desde o início).

Mais tarde, quando lançamos nosso primeiro produto completo, ele foi chamado de ‘Antiviral Toolkit Pro’. Logicamente, isso deveria ter sido abreviado para ‘ATP’; mas não foi …

Por volta do final de 1993 ou início de 1994, Vesselin Bontchev, que se lembrava de minhas reuniões anteriores (leia mais em Ciberpassado: Primeira Parte – 1989 – 1991), me pediu uma cópia do nosso produto para testar no Centro de Testes de Vírus da Universidade de Hamburgo, onde trabalhava na época. Obviamente, agradeci e, enquanto zipava os arquivos, acidentalmente o nomeei como AVP.ZIP (em vez de ATP.ZIP) e, em seguida, fiz o envio para Vesselin. Algum tempo depois, Vesselin me pediu permissão para colocar o arquivo em um servidor FTP (para que ele estivesse disponível publicamente), e obviamente aceite. Uma ou duas semanas depois, ele me disse: ‘Seu AVP está se tornando realmente popular no FTP!’

‘Qual AVP?’, perguntei.

‘Como assim, qual AVP? Aquele que você me enviou, claro!’

‘O QUE?! Por favor, troque o nome do arquivo – foi um erro!’

‘Já era. Já está publicado – e conhecido como AVP!’

E foi assim: ficamos conhecidos como AVP! Por sorte, conseguimos mais ou menos improvisar – Anti-Viral toolkit Pro. Mas, como eu disse, só mais ou menos. Bom, já que foi assim: todos as nossas ferramentas foram renomeadas deixando o prefixo ‘-‘ e adicionando AVP no lugar – e essa nomenclatura é usada até hoje em alguns de nossos módulos.

Primeira viagem de negócios – para o evento CeBIT na Alemanha

Em 1992, Alexey Remizov – meu chefe na KAMI, onde trabalhei pela primeira vez – me ajudou a obter meu primeiro passaporte de viagem ao exterior e me levou para a exposição CeBIT em Hannover, na Alemanha. Fizemos uma posição modesta, compartilhada com algumas outras empresas russas. Nossa mesa estava parcialmente coberta com a tecnologia de computadores KAMI, e na outra parte estavam nossas ofertas de antivírus. Fomos recompensados ​​com alguns poucos novos negócios, mas nada extraordinário. Mesmo assim, foi uma viagem muito útil…

Nossa sensação de participar do evento CeBIT como expositor naquela época, foi como se estivéssemos vivendo um sonho. Era tão grande! E fazia pouco tempo da reunificação da Alemanha, então, para nós, era tudo muito no estilo Alemanha Ocidental – o capitalismo informático estava em polvorosa. De fato, era um grande choque cultural (seguido de um segundo choque cultural quando chegamos de volta a Moscou – falamos disso mais tarde).

Frente a magnitude do CeBIT, nosso pequeno stand compartilhado quase não foi notado. Ainda assim, foi o proverbial ‘pé na porta’ ou ‘o primeiro passo é o mais difícil’ ou algo parecido. Por isso repetimos a visita ao CeBIT, quatro anos depois – o tempo para começar a construir nossa rede de parceiros europeus (e depois globais). Mas esse é um tópico para outro dia outra publicação (acho que pode ser interessante, especialmente para as pessoas que começam suas longas jornadas de negócios).

Aliás, até então, eu entendi que nosso projeto precisava muito de pelo menos algum tipo de suporte de relações públicas/marketing. Mas como não tínhamos dinheiro, e os jornalistas nunca tinham ouvido falar de nós, foi difícil conseguir esse apoio. Ainda assim, como resultado direto de nossa primeira viagem ao CeBIT, conseguimos uma matéria escrita sobre nós na revista russa de tecnologia ComputerPress em maio de 1992: relações públicas por conta própria!

Fee-fi-fo-fum, sinto os dólares dos ingleses!

Minha segunda viagem de negócios foi em junho/julho daquele mesmo ano – para o Reino Unido. O resultado dessa viagem foi outro artigo, desta vez no Virus Bulletin, intitulado Os Russos estão chegando, que foi nossa primeira publicação estrangeira. Aliás, no artigo são mencionados ’18 programadores’. Provavelmente havia 18 pessoas trabalhando na KAMI em geral, mas em nosso departamento de antivírus, éramos apenas nós três.

Londres, junho de 1992

Leia em:Ciberpassado: terceira parte – 1992-199x

Ciberpassado: segunda parte – 1991-1992

Aqui estou eu, para continuar com as minhas histórias da pré-história da cibersegurança. Você já viu a primeira parte – sobre quando eu peguei meu primeiro vírus, sobre nossa primeira ferramenta antivírus e sobre quando eu decidi fazer isso sozinho para me tornar um membro de uma profissão que realmente não existia naquela época (como analista antivírus freelancer)..

Então, depois de algumas semanas como freelancer – que foi basicamente uma semana sem muita coisa para fazer, já que eu não tinha conseguido encontrar clientes –decidi que precisava conseguir um emprego regular em uma empresa novamente. Então organizei uma espécie de “concurso” entre três empresas privadas que haviam me oferecido trabalho.

Uma delas (KAMI) merece um post separado, então aqui eu vou falar só das principais características. Era uma empresa de importação e de exportação (e de várias outras coisas) bastante grande e multifacetada, possuía um departamento de computação que eventualmente acabou saindo da KAMI e se tornou independente. O chefe era Alexey Remizov, um grande cara que acreditou em mim e me apoiou por muitos anos.

Mas vamos voltar ao concurso. Enquanto duas empresas me disseram algo como: “Claro, venha na próxima semana e vamos discutir uma proposta”, Alexey sugeriu que eu fosse ao seu escritório na manhã seguinte e no dia seguinte ele estava me mostrando onde estava minha mesa e onde meu computador estava, até dando um adiantamento como estímulo, decidindo sobre um título para o meu ‘departamento’ – o ‘Departamento de Antivírus’ (ou algo parecido) e me fornecendo dois funcionários.

Minha primeira tarefa foi… demitir os dois funcionários! Eles simplesmente não eram os profissionais certos. E eu gerenciei essa primeira tarefa de um jeito ok – sem histeria, sem conflitos: acho que eles concordaram comigo que não eram o as peças que encaixariam ali.

Agora, um pouco mais sobre a KAMI (lembre-se: era 1991)…

O departamento de informática da KAMI era formado por cerca de duas dúzias de pessoas. Mas não havia literalmente dinheiro para gastar em computadores! Portanto, o capital inicial veio da venda de calçados importados da Índia, biscoitos de chocolate, fabricação de um sistema de alarme de carro e sistemas de codificação de sinais de TV (para TV paga). Os únicos projetos de computador TI reais eram meu departamento de antivírus e também um departamento de transputer, que foram os de maior sucesso da KAMI no período.

O que mais consigo me lembrar daquela época?

Na verdade, não era um bom negócio, já que eu estava ocupado trabalhando de 12 a 14 horas por dia: eu não tinha tempo de me atualizar sobre outras coisas, incluindo política. Mas ainda assim, como posso dizer…

Alugamos nosso primeiro escritório em um… jardim de infância (!) em Strogino, um subúrbio do noroeste de Moscou. Mais tarde, nos mudamos para algumas instalações no Museu Politécnico, depois para a Universidade Estadual de Moscou, seguido para um instituto de pesquisa e depois em outro. Costumávamos brincar: no começo nossa empresa passou por todos os níveis – além do ensino médio).

Nosso primeiro “escritório” em Strogino

Leia em:Ciberpassado: segunda parte – 1991-1992

Ciberpassado: Primeira Parte – 1989-1991

Depois de escrever um post recentemente sobre o nosso sempre alcançado Top-3 em testes independentes, fiquei um pouco nostálgico com saudades do passado. Aí, por coincidência, houve o 20º aniversário do vírus do worm ILOVEYOU: mais saudade e mais um post! Mas pensei “por que parar por aí?”. Não estou com tantas pendências. Então eu vou continuar! Diante de tudo isso, vamos a mais K-nostalgia, em ordem aleatória, conforme as memórias forem aparecendo…

Primeiro, apertaremos o rebobinar (no toca-fitas dos anos 80) até o final dos anos 80, quando Kaspersky era apenas meu sobrenome.

Parte um – pré-história: 1989-1991

Eu, tradicionalmente, considero outubro de 1989 como o início dos meus primeiros passos no caminho rumo a minha carreira profissional. Usando um Olivetti M24 (CGA, 20M HDD), descobri o vírus Cascade (Cascade.1704) em arquivos executáveis em que havia conseguido se infiltrar e eu o neutralizei.

A história normalmente não revela que o segundo vírus não foi descoberto por mim, mas pelo meu ex-colega Alexander Ivakhin. Mas, depois disso, começamos a “analisar” as assinaturas de vírus usando nossa ferramenta de antivírus (não podemos chamá-lo de ‘produto’) regularmente. Os vírus apareciam com uma frequência cada vez maior (ou seja, alguns por mês!), eu os fragmentava, analisava, classificava e inseria os dados no antivírus.

Mas os vírus continuaram a surgir – novos que mastigavam e cuspiam computadores sem piedade. Os dispositivos precisavam de proteção! Foi nessa época que tivemos glasnost, perestroika, democratização, cooperativas, videocassetes VHS, walkmans, penteados de gosto questionável, suéteres piores e, também, o primeiro computador doméstico. E como o destino queria, um amigo foi o chefe de uma das primeiras cooperativas de computadores e me convidou para vir e começar a exterminar vírus. Eu não tinha escolha…

Leia em:Ciberpassado: Primeira Parte – 1989-1991